Viomundo – Raramente a gente vai ao médico quando tem gripe. No caso da gripe suína, como fica?
Eduardo Hage – O ideal é que você procure o médico sempre que tiver febre ou algum sintoma de doença infecciosa. Às vezes algum sinal de agravamento pode passar desapercebido para a própria pessoa. Por exemplo, falta de ar, que é o sintoma mais importante da gripe A. À vezes só “escutando” os pulmões, o médico identifica a pneumonia. Já tem casos que somente vão dar sinais quando a doença estiver avançada. Mas por meio do exame clínico ou, quando necessário, do raio X, se consegue identificar a pneumonia e definir que tipo de tratamento o paciente precisa. Hospital é para quando há agravamento de caso ou fator que favoreça.
Viomundo – O Ministério tem reiterado que os sintomas da gripe comum, sazonal, são os mesmos da Influenza A, a gripe suína. Não dá mesmo para distingui-los?
Eduardo Hage – Não. Por isso, você tendo febre alta (acima de 38º), indisposição, tosse ou dor de garganta, ocasionalmente diarréia, procure um serviço médico.
Viomundo – Das pessoas infectadas pelo vírus da gripe suína, quantos por cento precisarãode cuidados especiais?
Eduardo Hage – Pelo o que temos observado em outros países com maior número de casos e afetados antes do Brasil – por exemplo, Estados Unidos, México, Argentina e Chile --, no máximo 5%. Ou são casos graves ou tem fator de risco que favorece o agravamento.
Viomundo – Quais as situações que implicam maior risco?
Eduardo Hage – Têm maior risco de desenvolver as formas graves da doença: crianças menores de dois anos de idade; pessoas acima de 60 anos; gestantes; pessoas com imunodepressão (por exemplo, pacientes com câncer, em tratamento de aids ou em uso regular de corticosteróides), hemoglobinopatias (doenças provocadas por alterações da hemoglobina, como a anemia falciforme), diabetes, cardiopatia, doença pulmonar ou renal crônica e pacientes com obesidade mórbida. Nesses casos, dependendo da condição clinica do paciente, pode ser indicado o exame laboratorial e uso do antiviral.
Viomundo – O fato de coincidir com as férias escolares não seria um fator que ajudaria a conter a transmissibilidade?
Eduardo Hage - Não necessariamente. Para crianças e adolescentes, sim, pois diminui o contato na escola. Mas para adultos, não; é um período em que viajam mais, se expõem mais. Então os números acabam se contrabalançando.
Viomundo – O que o senhor ressaltaria ainda?
Eduardo Hage – Enfatizar o que já disse antes. A influenza tem características muito semelhantes à gripe comum que acontece todo ano no inverno. A abordagem, portanto, é a mesma que se deve ter em relação à gripe comum. Com maior cuidado com aqueles que podem vir a desenvolver a forma grave. Pandemia, por si só, não significa maior risco de as pessoas adoecerem e morrerem. Significa apenas que a adoença está disseminada em todo o mundo. E a conduta a ser adotada é exatamente a que recomendamos para os sintomas da gripe comum; na presença deles, procure a unidade de saúde mais próxima.
Viomundo – E as medidas de prevenção?
Eduardo Hage - O vírus da gripe suína, como já dissemos, é transmitido da mesma forma que o da gripe sazonal: por gotículas que são expelidas quando a pessoa infectada fala, espirra ou tosse. E as medidas de prevenção são as mesmas para o controle e prevenção da gripe sazonal e de outras doenças respiratórias. Por isso, as medidas de prevenção são muito importantes, principalmente as individuais, pois evitam que uma pessoa doente transmita o vírus para outra. Questão de respeito com a saúde do outro. Cubra a boca e o nariz com lenço descartável ao tossir e espirrar; é para evitar que gotículas atinjam os que estão próximos. Lave frequentemente as mãos com água e sabonete. Faça isso, pelo menos: depois de tossir ou espirrar; após usar o banheiro; antes de comer; e antes de tocar os olhos, boca e nariz. Evite compartilhar pratos, talheres e alimentos. Evite colocar as mãos nos olhos, nariz ou boca após pegar mexer com dinheiro, pegar produtos no supermercado ou ter contato com superfícies que não estejam devidamente higienizadas. Procure ter hábitos saudáveis, como alimentação adequada, ingestão de líquidos e atividade física.
Viomundo – E para quem está com sintomas de gripe, o que senhor recomenda?
Eduardo Hage – Evite freqüentar locais fechados, com pouca ventilação. O ideal é permanecer em casa enquanto estiver com tosse, febre e outros sintomas, pois evita a disseminação no trabalho, na escola. Aí, claro, de acordo com a avaliação médica, que vai indicar ou não a adoção de outras medidas. No mais, levar a vida normalmente. Todos os anos, no mundo inteiro, enfrentamos epidemias de gripes que têm características de pandemia. Em 2009, não será diferente. Não há nenhum risco a mais do que enfrentamos nos anos anteriores.
Eduardo Hage é médico epidemiologista Eduardo Carmo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde.
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